quarta-feira, 22 de abril de 2009

Tentei, em vão, reiniciar os meus estilhaços assim que cheguei a casa. Pus a cafeteira a funcionar, olhei pela janela e comecei a divagar. Quando dei por mim apercebi-me bem das voltas que a minha vida deu nos últimos tempos, demasiadas voltas para que eu possa reabrir este blog e ele continue a fazer sentido na linha que seguia outrora.

Por isso mesmo, e porque a poesia diz sempre o que a alma tem medo de exprimir a melhor maneira de recomeçar é com Pablo Neruda:

“Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite,
uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante,
desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!”

Pablo Neruda

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