segunda-feira, 8 de junho de 2009

Cinderela

“Cinderela, Cinderela, todo o dia trabalhando,
Lava a roupa, varre o chão... lalalalala
Um vestido para ela, para a pequena Cinderela”

Se a memória não me traí, o clássico Disney, traduzido para Português do Brasil tem uma músiquinha assim. É Domingo, chove e faz frio – a Maricotas virou Cinderela.
Sem a parte do Príncipe, e do sapatinho, e do vestidinho.
(Confesso que marimbava bem na parte do Príncipe, não acredito neles, e) ficava com o sapatinho e o vestidinho.

Faltam cinco dias. Comecei as limpezas profundas para a entrega da casa, irrita-me. Se entregasse a casa mesmo sem a limpar estava mais limpa do que quando a recebi. Gostava, volta e meia, de não ter escrúpulos e ser igual ao estafermo do meu senhorio.

Gostava que os armários da cozinha estivessem a colar, gostava que a gaveta da máquina de lavar roupa tivesse bolor em jeito de cogumelos, gostava que o pó dos armários estivesse em forma de cotão, gostava que os azulejos da casa-de-banho estivessem cinzentos, gostava que a casa cheirasse a mofo, gostava que as baratas voltassem a aparecer para eu as pôr num frasquinho e deixá-lo à porta de casa dele, gostava que as janelas da cozinha estivessem oleadas, que as outras estivessem sujas, que os cortinados brancos continuassem cinzentos.

Se assim fosse, eu entregava a casa tal como a recebi – foram essas as condições. O senhor vai ficar com uma casa limpa como nunca teve, a cozinha brilha, a gaveta da máquina não tem bolor, o pó dos armários é irrisório, os azulejos da casa-de-banho estão limpos (como é normal!), a casa não cheira a mofo, as baratas encolheram-se com o frio, as janelas deixam ver o mundo que há lá fora.

Garanto que não é porque a casa tem que ser entregue, é mesmo porque as casas têm que ser limpas, e por cá isso é UMA VEZ POR SEMANA, e não uma vez de dez em dez anos.

Não sei, acho que é normal. Digo eu.

Enquanto fazia uma bela quiche, apercebi-me que estive o dia todo a fazer de Cinderela, mas não ganho nem Príncipe, nem sapatinho e tampouco vestidinho.

Aceitam-se doações.

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