Sempre me encanitou a preocupação humana de dar nomes às coisas, de encaixar tudo no sitio certo. Parece que há uma necessidade de estar tudo impecavelmente catalogado, registado e nomeado de símbolos e signos.
Há uns dias que ando com esta ideia utópica de tentar fugir aos catálogos sociais que nos são impostos desde pequenos – digo utópica porque se torna quase tão impossível como concretizar a ‘UTOPIA’ de Thomas More.
Ainda ontem perguntava a uma amiga como estava a vida amorosa dela, disse-me que tinha andava a ver um rapaz, bombardeei-a de perguntas, possível namorado, caso, amigo colorido?! É estúpida esta necessidade de se dar logo um título a alguém só pela segurança que esse título nos pode trazer. Fiquei a pensar no que ela me disse –‘ não sei o que é mas estou feliz!’ – simples! Talvez por isso seja tão complicado para a sociedade aceitar a simplicidade das coisas...
Se o assunto já estava quase a morrer na minha cabeça, a minha aula de Auditoria Cultural veio reanimá-lo com fortes choques. O tema de hoje eram as empresas e os tipos de gestão que existem – para isso a senhora bombardeou-nos, durante 3 horas sem intervalo, com uma alegoria de árvores, troncos, ramos, folhas e frutos... comecei logo a bufar! Como é que é possível que alguém se dê ao trabalho minucioso de catalogar as relações de poder nas empresas de tal maneira que se torna impossível fugir à standartização da teoria?! Uma empresa de publicidade é uma empresa nuclear, tem um espírito e a materialização desse espírito está na capacidade de inovação e aventura de quem nela trabalha!
Que bonito! E logo salta a Senhora com a teoria de que os frutos apodrecem – boa! E como apodrecem também os produtos das empresas podem entrar em putefracção. E por aí fora... devo ter feito uma cara de tal maneira expressiva que o meu colega do lado me perguntou se eu achava aquilo uma palhaçada, respondi-lhe que sim!
E acho! Mais que uma palhaçada acho um circo ao mais alto nível de exigência corporal, custa-me a crer que as empresas sejam tão espartilhadas por conceitos que se dão em modo de missa numa aula de 4º ano de Publicidade. Partindo da premissa que as empresas são feitas por pessoas e para pessoas só a comunicação poderá ser a ponte entre elas... quantos anos se andou para definir comunicação?! Chegou-se a algum conceito universal e indiscutível?! Se a resposta é não e se se pode sempre contornar com outras cores porque será que as relações comunicacionais que se dão nas empresas têm sempre que ser tão estudadas ao limite?
Outra das coisas que me deixou em modo trance foi a atribuição de nomes de Deuses aos altos cargos das empresas, e como para cada um desses Deuses há um desenho que pode ir desde a teia de aranha até à casa.
Sou só eu que acho isto parvo e descontextualizado? Quando começar a trabalhar em Setembro também me vou pôr a avaliar o meu chefe e atribuir-lhe um desenho e um Deus? Há uma necessidade de tornar as Ciências Sociais demasiado exactas – só nunca entendi o porquê. Ou melhor, acho que é uma luta ressabiada com as Ciências exactas, o meu Avô dizia que ‘letras são tretas’... É impossível que as Ciências Sociais um dia sejam exactas, quanto mais não seja porque são comunicacionais e a comunicação dá-se com e para pessoas... quem nos dera a todos que cada um de nós viesse com manual de instruções e talão de troca! Não é isso que acontece, cada um tem o seu manual em branco e vai escrevendo nele o que a vida se encarrega de o fazer ver, e o que para mim hoje é tido como certo não tem necessariamente de o ser para o resto da minha vida.
Vim para casa a olhar para todo o tipo de homens executivos que se cruzaram comigo, a cada um deles tentei encaixar um dos conceitos que dei na aula de hoje, e a única coisa que realmente consegui foi decorá-los na ponta da língua, porque me parece plastificada esta ideia de cada tipo de chefe obedece a regras teóricas rígidas e jamais ultrapassáveis.
Agora sei os conceitos – só não sei para que eles servirão na nossas futuras carreiras profissionais!
O Homem e esta coisa do catálogo! Somos mesmo estranhos!
terça-feira, 17 de março de 2009
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